Para alguns, são meros joguinhos. Para outros, uma competição que merece ser levado a sério. A discussão dos últimos anos sobre os chamados e-sports ganhou novos capítulos neste período de quarentena por causa da pandemia de COVID-19, principalmente no automobilismo.
Muitas competições surgiram, algumas delas realizadas pelas próprias categorias que precisavam manter entretidos seus fãs. Algumas contaram com a participação dos pilotos oficiais, outras fizeram uma mistura entre pilotos reais, gamers e celebridades de diversas áreas (e até de outros esportes).
A finalidade de gerar um conteúdo para manter os fãs entretidos, foi cumprida. Mas ao mesmo tempo, foi possível notar que existe uma barreira entre o “piloto raiz” e a nova geração, que teve os games e simuladores como parte de sua formação até chegar as pistas, ao contrário de seus antecessores.
Isso fica claro nos resultados da maioria das provas virtuais. Mas, isso não foi a única coisa exposta com as corridas virtuais. Justamente por não ter os games como parte de sua formação, muitos pilotos profissionais não curtem as corridas virtuais. Muitas competições não contaram com seus pilotos oficiais em suas competições virtuais. Exceto pela Fórmula E. E é aí onde quero chegar…
Antes de mais nada, é preciso lembrar que a Fórmula E é uma categoria nova – está em sua sexta temporada. Ela ainda não possui um game oficial, por isso, em parceria com a plataforma rFactor2, a categoria de carros elétricos teve a boa ideia de criar o Desafio Race at Home, para ajudar a arrecadar fundos para a UNICEF no combate ao COVID-19.
A competição terá um total de oito provas (cinco já foram realizadas), e conta com dois grids distintos. Em um deles, chamado de Challenge Grid, estão gamers e pilotos convidados. No outro, os 24 pilotos oficiais da categoria.
No último sábado, foi realizada a quinta etapa, e o piloto alemão Daniel Abt teve uma atitude infeliz: colocou um piloto profissional de simuladores para correr em seu lugar. Após o questionamento de alguns pilotos e a investigação dos comissários, Abt foi desclassificado (havia terminado em terceiro, seu melhor desempenho na competição virtual até então) e teve que doar 10 mil euros para uma instituição de caridade. Essa, foi a punição da Fórmula E.
A Audi, equipe a qual pertence Daniel Abt, foi um pouco mais além: suspendeu o piloto alemão, que horas depois do comunicado da equipe, fez um vídeo explicando o ocorrido no último sábado, e expondo que não faz mais parte do time Audi Sport ABT Schaeffler. Essa, foi a punição da Audi.
Então, se deu início ao debate: foi justa a punição da Audi a Daniel Abt, sendo que o “delito” cometido foi no mundo virtual, e não no real, onde de fato ele exerce a profissão?
Pois é, o que muitos que questionam a punição se esquecem, é que nos dias atuais o virtual é uma extensão do real, e vice-versa. Acreditar que no virtual você pode fazer tudo e que isso não terá consequências no mundo real, é utópico, em todos os sentidos.
O Desafio Race at Home é um evento beneficente, pouco importa na realidade o resultado, já que o objetivo é levar entretenimento aos fãs da categoria, expor os patrocinadores através de algumas ativações nas redes sociais, e ajudar a UNICEF em uma boa causa em um momento difícil para a população mundial como um todo. Ainda assim, existem aqueles que levam a sério a disputa e querem competir pelo título.
A punição não foi pesada. Ela foi do tamanho do prejuízo que a ação feita pelo piloto alemão causou e ainda pode causar a competição, a Audi, a UNICEF, e até mesmo aos outros 23 pilotos da categoria. No mundo virtual, nada “passa batido”, ao contrário do que muitos acreditam. As punições acontecem, e quando acontecem, não se limitam ao virtual. Nos dias atuais, é impossível separar o virtual do real.
Que fique a lição para todos, no que diz respeito a qualquer pessoa da nossa sociedade nos dias atuais, que acredita que não se precisa levar a sério o mundo virtual e pode fazer o que quiser.