Aretha Duarte funda o projeto #ArethaNoEverest para escalar o topo do mundo por meio de recursos oriundos de material reciclável e também cria campanha de crowdfunding
Subir uma montanha é uma metáfora comum para explicar o tamanho de um desafio. Chegar ao pico dessa montanha, significa ter vencido. Quanto mais alta, maior o desafio. Para Aretha Duarte, a escalada é real. Ela quer se tornar a primeira mulher negra do Brasil a atingir o cume do Monte Everest, no Nepal. Para fazer história, vai precisar superar obstáculos. O primeiro, e talvez o maior, viabilizar o projeto. Para levantar fundos em diferentes frentes criou o #ArethanoEverest que, entre várias opções de arrecadação, trabalha com a coleta e venda de material reciclável e uma campanha de financiamento coletivo na plataforma APOIA.se: https://apoia.se/arethanoeverest.
“Quando decidi escalar o Everest, que, acredito, será em 2021, pensei na forma de angariar recursos financeiros para o projeto. Tenho minha renda como consultora e guia de montanhismo da empresa Grade6 e pensei em trabalhar com material reciclável. Juntar, selecionar e revender esse material. O objetivo é juntar lixo e sucata da minha casa, bairro, de amigos. De quem quiser doar esse material, essa é uma ideia sustentável em todos os sentidos”, comenta Aretha.
Aos 36 anos, a moradora da periferia da cidade de Campinas tem uma ‘montanha de dinheiro’ considerável para angariar. De acordo com a escaladora, o valor terrestre da expedição é de 43 mil dólares (cerca de R$ 220 mil), sem contar equipamentos, voo e seguro específico para essa atividade. São necessários cerca de 70 mil dólares (cerca de R$ 360 mil)para fechar o pacote completo e viajar ao Everest. “Reciclagem é um trabalho de formiguinha. Precisa de tempo para juntar material e ter o retorno financeiro. Com certeza é bem difícil conquistar os 70 mil dólares, especialmente porque não disponibilizo de todo meu tempo para isso. Tenho o trabalho na Grade6, além de ter compromissos familiares. Ter um patrocinador seria realmente importante, uma grande força para essa realização”, destaca.
Força da mulher negra – Apenas 25 brasileiros escalaram a montanha mais alta do mundo até hoje, sendo cinco mulheres. Nenhum negro integra essa lista. Escalar o Everest teria uma grande representatividade para ela, sem contar que trata-se de um esporte elitizado. “Existe um engajamento das pessoas, tornando essa minha ideia um exemplo de determinação, princípios sustentáveis e de incentivar essa jornada. As coisas estão acontecendo de forma orgânica nesse momento, mas com muita intensidade”, conta.
Aretha explica que são cinco os passos básicos para escalar o Everest de uma forma segura. “O escalador precisa de ter excelente condicionamento físico, experiência técnica de escalada em rocha e em gelo, bom volume de experiências em alta montanha e escalar uma montanha de 8.000 metros. Esses cinco alcancei ao longo de nove anos de experiência profissional. Mas, para mim existe o sexto passo: a questão financeira”, complementa.
Até 2019, a consultora não tinha consciência e nem interesse de escalar o Monte Everest. Já tinha ido ao campo base de lá (mais de 5.000 m de altitude), em 2013, conhecendo a região e praticando montanhismo. “Em dezembro do ano passado, vendo fotos do Carlos Santalena (sócio da Grade6) em expedições no Nepal, vi o Vale do Silêncio, que está 6.400 m de altitude, achei impressionante e me arrepiei. Achei lindo e naquele momento quis estar lá e aí surgiu a vontade de um dia ir”, relembra Aretha.
“Pensei, em princípio, que não seria possível escalar o Everest, pela exigência financeira. Em março deste ano, iríamos guiar um grupo no campo base, com quatro clientes da Grade6, viajando no dia 14. Um dia antes, as fronteiras do Nepal foram fechadas e fiquei chateada. Compreendi a questão, por conta da Covid-19, mas nesse dia refleti e pensei: a próxima oportunidade, será para escalar o topo do Everest”, completa.
Paixão pela montanha – Aretha já praticou o esporte em sete países. Ela conheceu a modalidade na faculdade, aos 20 anos, quando o professor Beto, da PUC de Campinas, quis apresentar esportes outdoor para seus alunos “Ele nos levou até a Grade6, operadora de montanhismo. Lá entendemos mais como funciona o esporte. Fiquei extremamente apaixonada, pensando: ‘como nunca tinha ouvido falar neste tipo de esporte antes?’. Moro na periferia de Campinas e por aqui é comum conhecermos, no máximo, os esportes coletivos. Praticava o futebol, mas escalada, montanhismo, nunca tinha tido acesso”, conta.
Entusiasmada, Aretha tentou se aproximar da empresa, fazendo cursos de escalada em rocha. Trabalhou de modo eventual em eventos corporativos, para em 2011 ser efetivada. A empresa ia fazer a primeira expedição comercial ao Everest. “O Carlos Santalena e o Rodrigo Raineri, na ocasião sócios e guias da Grade6, levariam os clientes para a montanha, e assim me convidaram para fazer parte do quadro de funcionários”, explica a campineira.
“Daí em diante, comecei a praticar escalada, trekking e expedições. Em janeiro de 2012 fui pela primeira vez à alta montanha, no Aconcágua. Desde então, ao menos uma vez por ano realizo expedições no pico mais alto das Américas, na Argentina. Estive cinco vezes lá, quatro delas atingindo o cume de 6.962 metros”, finaliza.
Teaser – Confira o vídeo teaser do projeto #ArethanoEverest: