Aos 10 anos, em casa, tive minha primeira memória olímpica. Sentado ao sofá, minha mãe apontou para a televisão e mostrou a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. “É o espetáculo mais bonito no esporte”, comentou à época sem saber quais rumos o então garoto tomaria dali para frente.
Neste mesmo ano, durante a maratona, uma das principais competições das Olimpíadas, minha professora instalou uma televisão bem antiga, aquela de caixote e sem controle remoto no fundo da sala. Lembro que para trocar de canal precisa girar um botão e um barulho de “tec-tec” conseguia escutar.
Durante uma dessas aulas, presenciamos, sem querer, um dos momentos que marcaram a história da competição. Vanderlei Cordeiro de Lima liderava a prova, quando um “padre” cometeu um dos seus maiores pecados. Agarrou o brasileiro, deixou os adversários o ultrapassarem e fez o sonho do ouro escapar. Mesmo assim, o maratonista brigou por medalha até o final e conquistou o bronze, em um dos momentos mais emocionantes daquela edição.
Passado este episódio e também os jogos, pouco sabia qual profissão iria seguir. Ou melhor, se iria seguir alguma. Desde então, passei a assistir muitos jogos. Todos da tv aberta e os que não passava, pelo velho e bom radinho. Nunca fui muito fã de presentes extravagantes e, confesso, sempre fiquei muito recluso ao meu quarto, com poucos amigos. Minha mãe, então, perguntou o que gostaria de ter: assinatura da tv a cabo, pedi sem dúvida alguma. A partir daí, ainda com um computador que usava apenas para estudar, fui me aprofundando nos jogos.
Em 2008, pedi para comprar um streaming de áudio e fiz, de uma forma muito amadora, uma webradio. Passei as madrugadas de Pequim 2008 vendo as competições para depois fazer comentários, do que eu pensava ser uma análise da participação brasileira, no espaço que havia inventado na internet.
A partir daí, fui conhecendo muitos jovens que também estavam na escola e sonhavam em estudar jornalismo. Assim, fizemos algumas transmissões. Naquela época, alguns vizinhos aqui de casa pensavam que conversava com pessoas imaginárias sobre os mais diversos assuntos do esporte. Mal sabiam que, além de conversar com pessoas de verdade, também entrevistamos vários nomes importantes da crônica esportiva nacional.
Contei tudo isso para dizer aos leitores do CollabSports, que minha paixão Olímpica me fez sonhar. Em 2012, iniciei jornalismo e, em 2015, terminei o curso. Um dos sonhos mais lindos da minha vida, principalmente, porque era um rapaz tímido – ou ainda sou – e poucas pessoas me apoiavam. Desde então, trabalhei em rádio, televisão, jornal e assessoria de imprensa. Entrevistei muita gente. De jogador de futebol e atleta a governador. Enfrentei tudo pela paixão ao esporte.
Em 2016, parcelei uma passagem aérea em algumas vezes para o Rio de Janeiro. Também no cartão, um ano antes, fiz a mesma coisa para comprar três ingressos para finais Olímpicas. Foi o melhor investimento que fiz. Assisti, de perto, as Olimpíadas. Conto na próxima coluna, no sábado (1º).
Até lá!
Ismail Pereira é jornalista.