Nicole Silveira fez história mais uma vez. Além de promover a estreia do Brasil no skeleton com apenas quatro anos de prática da modalidade, a gaúcha de Rio Grande, de 27 anos, passou pela terceira descida no 15º lugar, com o tempo de 1min02s55, avançou para a final e deu ao país o primeiro Top-15 da história em esportes de gelo. Na quarta e decisiva descida marcou 1min02s40, somando o tempo total de 4min10s48, na 13ª colocação geral. É o melhor desempenho de um brasileiro nos esportes no gelo e o segundo melhor da História em Jogos Olímpicos de Inverno. Um momento mágico para o Brasil no Centro Nacional de Esportes de Pista, em Yanqing.
“É muito especial. Eu e o meu treinador conversamos e se ele tivesse me dito que o objetivo era chegar nos Jogos Olímpicos e terminar em 13º, na frente de grandes nomes, eu não teria acreditado. Vendo o que eu consegui aprender e fazer hoje aqui, me mostra que eu tenho potencial, mas que tenho muito a evoluir. Estou muito animada para as próximas temporadas e já quero começar de novo”, disse Nicole, que, em termos de posição final, só fica atrás do 9º lugar de Isabel Clark em Turim 2006.
“Como sou muito competitiva, sempre quero fazer melhor, mas fico muito feliz com o desempenho, foi bom. Foram quatro anos que eu aprendi muito rápido. Meu treinador, Joseph Cecchini, tem um livrinho em que anota todos os objetivos e ele sempre me fala que estamos um passo à frente. O bom disso é saber que tem mais pra vir e o lado não tão positivo é que eu acabo me cobrando mais do que eu deveria em cada ponto”, observou Nicole.
Nicole voou no percurso em Pequim 2022 com 1.9km, com 16 curvas com diferentes ângulos e inclinações e fez jus ao apelido de “a braba do gelo”, que ganhou nas redes sociais. A atleta conseguiu seus dois melhores tempos na competição justamente nas duas últimas baterias. Assim, ela encerra a temporada de 2022 com mais um grande resultado depois de ser campeã da Copa América vencendo as cinco etapas, conquistar um Top-10 na etapa de Altenberg da Copa do Mundo, além da oitava colocação no evento-teste no mesmo local em que brilhou neste sábado.
“Eu gosto muito dessa pista. Conversei com meu treinador ontem, descobrimos qual tinha sido o problema e, depois de analisar os vídeos e conversar, eu sabia que era algo que dava para melhorar. Hoje eu vim com confiança de que eu conheço a pista, eu sei descer, eu mereço estar aqui e tentar aproveitar a experiência de estar numa Olimpíada competindo e carregando a torcida do Brasil, que foi gigante, e só me motivou pra dar o meu melhor”, celebrou a atleta.
Antes de Nicole, o único sul-americano a disputar o skeleton em Jogos Olímpicos havia sido o argentino German Glessner, que ficou em 26º em Salt Lake City 2002. Considerando a América Latina e o Caribe, até Pequim 2022, haviam sido apenas três representantes. O melhor resultado era, até então, de Patrick Singleton, de Bermudas, 19º em Turim 2006. Por isso, o feito de Nicole fica ainda mais extraordinário. E logo na estreia dela em Jogos Olímpicos.
“É um grande feito. Estou sabendo agora, mas fico muito feliz mesmo em ajudar na divulgação do esporte, mostrar pro Brasil. Espero que todos continuem torcendo com essa animação para a temporada que vem e nas outras. Quero que a gente consiga mais atletas, para fazer o esporte crescer. Realmente, é um grande feito que eu vou ter que parar ainda pra processar. O que sinto agora é só gratidão pela torcida de todos”, agradeceu a brasileira.
Agora, Nicole volta para o Canadá, onde reside e, enquanto não volta aos treinos e competições aproveitando a temporada de inverno no Hemisfério Norte, vai exercer seu segundo amor: a enfermagem. Mas não sem antes tirar uns dias de folga e curtir um tempo ao lado de sua namorada e adversária em Pequim, Kim Meylemans, da Bélgica. A brasileira que passou por outras oito modalidades antes de se encontrar no skeleton, não pretende fazer uma mudança tão cedo e já traça objetivos ousados para o próximo ciclo.
“Com certeza teremos mais quatro anos de Nicole no skeleton. No primeiro ano, o objetivo era somente chegar aqui e não sabia se ia continuar pra 2026. Mas agora é certeza que vou continuar e já estou visualizando 2030. Não tenho data para parar. Um pódio é a meta porque, vendo a primeira descida de ontem, se quebrar em setores, eu tinha potencial de estar no Top-5. Se eu continuar me desenvolvendo como vim até aqui, os próximos quatro anos podem ser bem especiais”, projetou Nicole.
A próxima disputa do Brasil nos Jogos Olímpicos de Inverno será do bobsled, no trenó de duas pessoas, no próximo dia 14, às 09h05 (horário de Brasília). Pequim 2022 é a nona participação brasileira em Jogos de Inverno, iniciada em Albertville 1992. Até esta edição, 35 atletas do Brasil, dez mulheres, em oito esportes (esqui alpino, bobsled, esqui cross-country, luge, snowboard, biatlo, esqui estilo livre e patinação artística), participaram da competição.