O apelido “Aaron Man”, uma brincadeira com o nome da prova mais difícil do Triathlon, é perfeito para o jovem Aaron Plínio Aguiar de Souza. Aos 13 anos, o aluno da Escolinha de Triathlon Formando Campeões já superou obstáculos duros para crianças no espectro autista. Passou por uma cirurgia para recuperar a audição, fez terapias para aprender a falar e andar, dominou o medo de cair da bicicleta e até disputou uma corrida. O mais importante: ganhou independência, tanto nas atividades físicas como no dia a dia. E o esporte tem sido um aliado fundamental nesta jornada.
A dificuldade de interação social das crianças com autismo e a falta de locais apropriados levam muitos pais e mães a pensarem duas vezes antes de inserir a prática de atividades físicas na rotina dos filhos. Mas o esporte é uma poderosa ferramenta de inclusão, uma das bandeiras da Escolinha de Triathlon. Além de desenvolver habilidades motoras e condicionamento físico, proporciona mais facilidade de comunicação e socialização. A inclusão também funciona para os outros alunos e colegas, que passam a compreender e conviver com realidades diferentes.
Desde muito cedo, Aaron apresentava estereotipias, movimentos repetitivos comuns em pessoas autistas, como balançar o corpo quando está feliz. Também não engatinhava nem falava. Aos quatro anos, veio o diagnóstico de autismo. A partir daí vieram as sessões de fisioterapia e terapia ocupacional. Na fonoaudióloga, descobriu que não tinha audição num dos ouvidos e fez uma cirurgia para escutar. Foi para a piscina e as aulas de natação para melhorar sua percepção corporal. Até o triathlon entrar na sua vida.
“Eu sempre fui apaixonada pelo triathlon, e não tive condições de praticar. Quando me mudei e as crianças entraram no Colégio da Polícia Militar, no início da pandemia, fiquei sabendo sobre a Escolinha e decidi levá-los”, conta a mãe, Andreia dos Santos Aguiar. Policial militar reformada desde 2016, Andreia é mãe de trigêmeos: Aaron, Ingrid e Alanis. As duas meninas entraram primeiro no projeto. “Num dia de muito frio, a piscina estava fechada. Para o Aaron não ficar sem atividades, levei para o treino de triathlon das irmãs. A atividade do dia era corrida, ele conseguiu participar das brincadeiras e teve ali seu primeiro contato.”
O primeiro desafio
O primeiro desafio de Aaron no triathlon foi aprender a se equilibrar na bicicleta. Além do medo de cair, ele se frustrava com os erros e ficava nervoso. A ajuda veio do professor Ronaldo Mateus, que também o acompanha no CPM e o empurrava na bike.
“O mais importante, na Escolinha, é a socialização e inclusão do autista junto com os outros alunos. Desde o começo, estivemos sempre ao lado dele, trabalhando bem de perto para corrigir os movimentos e dar toda a segurança necessária para o Aeron andar de bicicleta”, conta Ronaldo Mateus. A monitora Fernanda Nardino também o ajudou, desenvolvendo força física e a resistência muscular.
Aprendendo a perder e ganhar
Hoje uma criança independente, Aaron melhorou a parte motora, ganhou qualidade de vida, com redução de gordura corporal, e desenvolveu habilidades sociais. Também é responsável com a organização dos seus materiais e da sua rotina. E aprendeu a lidar com as frustrações.
“Ele se frustrava muito fácil quando errava, quando tirava notas baixas. Eu sempre digo para ele analisar a situação quando algo dá errado, ao invés de chorar, e pensar o que pode fazer de diferente, para melhorar. O esporte o ajudou muito nisso, a lidar com as derrotas. E a vontade dele foi determinante”, destaca Andréia. “Ele queria correr, queria praticar esporte. Quis participar de uma corrida infantil de 2km. Sabia que não conseguiria correr tudo, então combinamos dele fazer 600 metros, e ele saiu atrás dos outros na prova, com as irmãs acompanhando no gramado do lado de fora. Estou criando ele para ser independente.”
Legado do triathlon
O grande objetivo para Aaron no triathlon é o aprendizado diário, a saúde e a sociabilização que não existiriam fora da Escolinha. Alanis tem outros sonhos profissionais, e quer seguir praticando a modalidade por amor ao esporte. Já Ingrid tem porte e maturidade de atleta. Sexta colocada no Campeonato Brasileiro de Triathlon Infantil de 2021, em dobradinha com a irmã, no sétimo lugar, Ingrid quer ser profissional, e até já é vista como exemplo por meninas mais novas do projeto.
“De um jeito ou de outro, todos vão levar o esporte para a vida. E não há diferença entre eles, vejo os três com as mesmas possibilidades para o futuro, tanto no esporte como nos estudos”, diz a mãe, Andréia.
Metas da Agenda 2030 na Escolinha
A formação de crianças e adolescentes por meio do esporte é a principal missão da Escolinha de Triathlon Formando Campeões. Mais do que as técnicas do nada, pedala e corre, a equipe técnica segue diretrizes pedagógicas para orientar os triatletas mirins em questões como organização pessoal, disciplina e respeito aos pais e professores.
Essas diretrizes também estão de acordo com os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável que integram a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas, a ONU, com a qual o projeto está comprometido. A Escolinha busca atingir esses objetivos de forma individual, com ações de conscientização com os alunos, e coletiva. Faz parte do projeto o compartilhamento dos equipamentos de treino, a preocupação com uma educação escolar de qualidade, adoção da igualdade de gêneros no número de alunos e professores.
Formando Campeões
A Escolinha de Triathlon Formando Campeões, iniciada há sete anos em Curitiba (PR), é hoje um modelo de formação da modalidade no País. Idealizado pelo atleta olímpico curitibano Juraci Moreira, contempla 920 crianças e adolescentes em 18 núcleos espalhados por Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Distrito Federal e Ceará.
A unidade do Colégio da Polícia Militar do Paraná foi a primeira a ser criada, e é pioneira na formação de triatletas. Hoje, atende 60 alunos. As crianças contam com todos os equipamentos necessários e são treinadas por especialistas na modalidade.
A Escolinha de Triathlon Formando Campeões tem execução da Federação Paranaense de Triathlon e apoio do Colégio da Polícia Militar do Paraná. Os patrocinadores são Astra, Rede Condor, Thales, Enaex Brasil, Veneza e Golfleet.
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