Jogos de Berlim são marcados pela atitude de Luz Long, a rapidez de Jesse Owens e a ira de Adolf Hitler
Há 85 anos um atleta alemão desafiava o regime nazista e praticava a melhor demonstração de espírito esportivo em uma olimpíada. Em agosto de 1936 Carl Ludwig Luz Long (1913 – 1943) ajudou ao norte-americano Jesse Owens, um atleta negro que estaria prestes a aplicar uma lição no líder da Alemanha, Adolf Hitler.
Eram tempos de tensão e o chanceler alemão queria demonstrar a superioridade da raça ariana nos Jogos Olímpicos de Verão, em Berlim. A ideia era vencer as competições mais importantes do evento. O atleta dos Estados Unidos James Cleveland Owens (1913 – 1980) ganhou quatro das principais provas do atletismo e deixou Hitler furioso.
Jesse Owens derrota a supremacia ariana (foto: Creative commons)
O esportista foi aplaudido por um público de várias nações no Estádio Olímpico de Berlim. Uma das vitórias, porém, contou com um auxílio inesperado. Na prova de salto em distância o seu adversário, Luz Long, o aconselhou a como melhorar o desempenho para se classificar à final da competição. O americano tinha única oportunidade e seguiu as dicas do rival para obter a classificação.
Owens, então, derrotou na final o favorito Long e conquistou a marca de 8,06 m arrematando a medalha de ouro. O alemão ficou com a prata e demonstrou, novamente, o espírito esportivo ao parabenizar o adversário e caminhar abraçado ao seu lado após a prova.
O norte-americano conquistou quatro ouros: salto em distância, 100 e 200 metros rasos e revezamento 4 x 100 metros, além de estabelecer nas provas, recordes olímpicos e mundiais. Após 21 anos desde a morte de Long e 28 anos após os Jogos de Berlim, o Comitê Olímpico Internacional homenageou o alemão e lhe concedeu a medalha Pierre de Coubertin.
O prêmio é oferecido em condições muito especiais. Concedida a partir de 1964, a medalha é atribuída aos atletas (mesmo àqueles que pararam de competir), a promotores e dirigentes esportivos e a outros envolvidos nos eventos olímpicos – de verão ou de inverno – que demonstrem o espírito esportivo e ações em favor do movimento olímpico.
Conforme afirmamos em edição anterior desta coluna, a honraria está em acordo com a essência dos ideais do fundador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, o francês Pierre de Frédy, conhecido pelo título de Barão de Coubertin.
Luz Long: espírito esportivo ao caminhar abraçado a Owens depois da prova. (foto: Creative commons)
Luz Long cursou Direito e, em 1939, defendeu o doutorado com o seguinte título: “A gestão do esporte pelo Estado: uma representação do desenvolvimento técnico”. Partes das cenas descritas neste texto podem ser assistidas no filme que retrata a saga de Jesse Owens e o espírito esportivo de Carl Ludwig Luz Long: Raça (2016).
Para conhecer mais:
BBC.CO.UK.Olympic Countdown – 64 – Olympic Spirit. (Peter Scrivener), 2008. Disponível em: https://www.bbc.co.uk/blogs/olympics/2008/06/olympic_countdown_64_olympic_s.html. Acesso em: 06 mar. 2021.
O ‘jogo limpo’ no esporte: uma conduta que merece prêmio – Parte I. Jornalismo Esportivo ECA-USP. (Marcelo Cardoso), 2021. Disponível em: http://www.usp.br/esportivo/index.php/2021/01/15/o-jogo-limpo-no-esporte-uma-conduta-que-merece-premio-parte-i/. Acesso em: 08 mar. 2021.
Olympic Channel. Carl Ludwig ‘Luz’ Long. Disponível em: https://www.olympicchannel.com/pt/athletes/detail/carl-ludwig-luz-long/. Acesso em: 06 mar. 2021.
Raça. Direção de Stephen Hopkins. 2h03 min. Canadá, Alemanha, 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=LiooRD3Iej0. Acesso em: 08 mar. 2021.
Marcelo Cardoso é jornalista e professor universitário. Pesquisa o jornalismo em suas várias interfaces com o esporte.
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